MEMÓRIA DE JOSÉ LUÍS PAREDES DA BEIRA
Tiravas o retrato, no Rossio, ao espelho,
a crianças, no meio d'amestrados pombos:
davam plo nome e vinham pousar-te nos ombros,
ou no pulso da tua mão cheia de milho.
Eram teus olhos dum azul tão claro
que neles se avistava os pombos a voar
num céu primaveral: tinhas o dom de dar,
amigo tão discreto, puro e raro.
Que foi feito de ti? Esta cidade alui:
incauta, vai matando a sua arquitectura
e os actores rituais nos últimos redutos.
Onde nascia o Sol, agora o Sol se esvai;
e onde havia Ócio, agora há só Usura;
e onde havias tu, agora há pombos mortos.
A fina flora do crepúsculo, Averno, Lisboa, 2019.
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