(não trazer os limoeiros do jardim
de novo para o poema)
Lisboa já não é suficiente
faz-me falta um povoado sub-regional onde exista
precisamente este quarto musicado, sumido
entre a cal sobreposta dos séculos
lugar despojado, despido, eu tenho
fome de não comer, abater o que em mim arvora
permanecer sentado no sangue que cursa
a ribeira deste corpo e um dia secará
para que o gato sujo se aborreça
outra e outra vez sobre o muro, à sombra
dos limoeiros
Estojo, Relógio d'Água, Lisboa, 2020.