domingo, 4 de janeiro de 2009

MANUEL DE FREITAS

SÃO MARTINHO


Tenho atrás de mim um bar
e à frente um cemitério.
Assim (na opinião de uma amigo)
deveria terminar não apenas o postal
mas um poema que não escrevi.
Serviam, para acompanhar as cervejas,
batatas a murro tão frias como eu.

Talvez o postal bastasse, agora que
a igreja velha, onde o meu pai
aprendeu música, já só abre
para velórios — diariamente, portanto.

Calado, à minha frente, um cemitério
– e, apenas um pouco atrás,
canções que vêm morrer
junto ao balcão do bar

não sei por quanto tempo.


Boa Morte, edição do Autor, Lisboa, 2008.