quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DIOGO VAZ PINTO

PELOS PIORES MOTIVOS


Uma última canção antes que deixe a lua
desistir de nós. Depois será tarde, mesmo
que insistas contra o tempo na repetição
do mesmo beijo, outro golpe fraco e triste,
sinal apenas de que nunca tivemos jeito
para mentir um ao outro. De um certo modo
(que não resultou melhor a nosso favor)
fomos sempre fiéis e até nos quisemos bem.

Esta noite, se eu prefiro assobiar, és tu
quem dança. Seguimos numa despedida
que não sendo a primeira nem a última
vem sendo a constante, e por ruas
que não se lembrarão de nós, retiramo-nos
desvirtuando a melodia, no conforto
estranho de estarmos juntos, mas dilacerados
pela presença de uma terceira sombra.


Criatura, n.º 2, Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa, 2008.