quarta-feira, 29 de abril de 2009

JOÃO ALMEIDA

MAR CALHADO E ESTE SANGUE AINDA QUENTE


saí da cidade como de uma rua sem nome
não me lembro de nada, irei ter com o que houver

levo barulho no saco preto às costas
nódoas na roupa interior
e um poema da perna de pau

a alma foi dar horas, já não regressa e virá diferente
resta matéria gorda que a água do chuveiro não levou
um buraco no chão, e má memória

há versos que chegam à cancela como cães sem dono
outros aparecem e fazem chover
também me perco e deliro


Glória e Eternidade, Teatro de Vila Real, 2009.