quarta-feira, 6 de maio de 2009

ARTUR ALEIXO

[AO FIM DA TARDE, NO PÁTIO DA ESCOLA]


Ao fim da tarde, no pátio da escola,
abrem-se os primeiros buracos
para jogar ao berlinde. Milimetricamente
procuram-se os locais do ano
passado. Dos mais velhos
é o primeiro testemunho na arte de invadir
o mundo. Afoitos, explicam também
como os botões sobram na roupa
dos mortos. Durante o velório
esperam o momento certo e zás,
sem contemplações, arrancam-nos dos punhos.

Roubados os botões, fica o relógio
valioso para enumerar os percalços
do mundo.


Telhados de Vidro, n.º 5, Averno, Lisboa, 2005.