quarta-feira, 13 de abril de 2011

FERNANDO PINTO DO AMARAL

AZUL


Um dia hás-de nascer fora de ti
num sobressalto novo deste céu
onde se afoga a luz da madrugada
já sem nenhuma estrela que te aceite
a translúcida febre das palavras.
Um dia hás-de romper os cegos nós
do monstro a que chamavas coração,
o antigo labirinto que te ilude
a inocente máquina do corpo
na escuridão dos passos desastrados
em busca de um azul que te conheça.
Um dia hás-de falar sem dizer nada
que o mundo compreenda e será teu
esse primeiro azul da madrugada.


Saudade: Revista de poesia, n.º 11, Associação Amarante Cultural, Amarante, 2009.