Mais uma queda. Mais uma lasca de madeira cravada no corpo. Estacas de travar vampiros, sêdes. Ossos esmagados, sinapses rotas e, sempre, o fígado fosfórico. De cada vez, a dúvida absoluta. A suspensão da vida. A estupidez mais iníqua amesquinhando a nossa suposta divindade. Transplante? Broa dura? Pastéis de massa tenra de efémeros perfumes? Escolha-me o Diabo a sorte! Tudo poderia ter sido banal, banal e generoso, tivera eu chegado três gerações mais cedo. Vejo-me, à chuva, a apanhar ouriços sob os castanheiros. Analfabeto. São. Vejo-me e não me vejo em parte alguma. Muito menos aqui. Ainda menos agora. Ah!, quem me dera perder, ao menos, a memória dos castanheiros que nunca toquei, que apenas de relance pude amar.
Resumo: A poesia em 2011 [de Lérias], org. de Armando Silva Carvalho, José Alberto Oliveira, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas, Documenta/Fnac, Lisboa, 2012.