domingo, 31 de março de 2013

ANTÓNIO BARAHONA

O ÚLTIMO COPO


Só se lembrava, com nitidez, de beber o último copo, compulsivamente, como um condenado à morte. Engolira o líquido dum trago e rangera os dentes: ei-lo no inferno.
 
O resto era muito vago. O rosto aureolado da empregada de outro bar, até onde se arrastara, a perguntar-lhe se queria que chamasse um táxi.
 
– Só se vier comigo, respondera-lhe a rir.
 
Depois, deslocara-se, aos zigue-zagues, na direcção das Escadinhas do Duque, que começou a descer a quatro e quatro, soltando uivos como um lobo ferido de morte. Os uivos, às vezes, confundiam-se com gritos de pavão.

 
Resumo: A poesia em 2012 [de Maçãs de espelho], org. de Armando Silva Carvalho, José Alberto Oliveira, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas, Documenta/Fnac, Lisboa, 2013.