para Antonin Artaud
dêem-me um muito longe que não arda.
mascar vidro não é profissão, dizem-me,
nem deixa que o amor da morte me leve
para perto de lisura do vinho.
embora não me vou,
e se for irei ficando,
sem oiro no rosto
nem coice que me peça cicatriz.
fico.
ato o amanhã no dedo de pescar
e saco-lhe a guelra quando picar
o calendário.
não tenho tempo.
eles não sabem onde estou
e só por isso não me mato.
quero deixar um açoite armadilhado,
antes que a data prima
a leveza do gatilho.
fico.
fico com um pão a morrer no bolso
e os lábios secos de nomes
para dar a cada dia.
que horas são, meu amor?
a que horas chega a hora certa?
Telhados de Vidro, n.º 18, Averno, Lisboa, 2013.