Não sei de músicas que acalmem os pássaros, nem sei de pássaros que amanheçam no sangue ou de beijos dados no pulso para chegarem ao coração. Não sei de nada que tenha voo, cor de tempo – vermelho, sempre vermelho, como odeio vermelho –, ou de como se nasce das pedras. Muito embora tenha caminhado sobre elas, pressinta cores dentro do peito e goste de olhar muito acima da copa das árvores só pela ideia de que, ao contrário dos pássaros, as estrelas me durarão o futuro todo. E se me falam de músicas, sangue ou beijos, sorrio e fecho o rosto, porque nunca gostei do que não me durasse mais do que este instante.
É quase noite, Averno, Lisboa, 2013.