domingo, 15 de março de 2015

RUI PIRES CABRAL

MEU AMIGO


Depois de tudo, no vazio
da manhã inabitável,

ajuda-me a negar
este remorso:

eu só queria uma canção
que não morresse

e a hipótese de um poema
que não fosse

o lugar onde me encontro
uma vez mais,

sem desculpa, sem remédio,
diante de mim mesmo.


Morada, Assírio & Alvim, Lisboa, 2015.