domingo, 5 de junho de 2016

MANUEL DE FREITAS

SÍTIO DA NAZARÉ, 1979


Não tenho a certeza do nome da senhora (que talvez se chamasse Maria Augusta) a quem os meus avós alugavam casa no Sítio, mas sei que era inequivocamente cigana e que a casa ficava mesmo ao lado da praça de touros. Eu dormia no corredor, numa cama minúscula escondida por reposteiros. Os avós entretanto morreram, e a minha mãe optou pelo campismo selvagem nos pinhais em volta, antes de se render ao fascínio terapêutico da praia da Consolação.

Desconheço se devo a essas remotas experiências a tristeza que ainda hoje associo ao Sítio. Mas parece-me evidente que a minha poesia evoluiu (se é que evoluiu) num sentido exactamente contrário: passou do campismo selvagem a um longo corredor vazio onde já não espero encontrar ninguém.


Sítio (com Inês Dias), Volta d'Mar, Nazaré, 2016.