quarta-feira, 18 de março de 2009

JORGE GOMES MIRANDA

DIDO AND AENEAS, HENRY PURCELL


O que arde quando tudo arde
não são as torres de Cartago
mas esta cidade de sombra, transformação
fabril, cenografia marítima
que um dia quisemos fazer nossa, no início
de um milénio de míseras vozes –
lamentações com excesso de vibrato,
frases de uma elegância inexpressiva.

Sobre o mar as naus,
uma luz triunfante?
Mistificações, enganos
de fim de tarde.
Prelúdios de uma desistência
sem pantomimas
e momentos operáticos.

Os teus braços, interlúdios musicais
no estertor urbano.


Falésias, Teatro de Vila Real, 2006.