domingo, 9 de outubro de 2011

RENATA CORREIA BOTELHO

PALO SANTO


fendiam o castelo e o nosso palco, em madeira,
gotas temíveis, prontas a molhar de incerteza
a mala gasta do palhaço, o fato de trapezista
que se equilibrava a custo na solidão do cabide.

fizemos uma roda e uma chama lenta, como mandam
os mais fundos preceitos da magia, calámos
baixinho todas as vozes, deixámos aos pássaros
e ao palo santo a decisão suprema daquela noite.

nada sabia eu, até ali, da alma do fogo abrindo
caminho entre as intimações da chuva. e o céu
vergou-se, num sopro, a um rasgo de sol, que trago
nestes olhos entretanto regressados à borrasca.


Piolho, n.º 6, Edições Mortas/ Black Sun Editores, Porto/Lisboa, 2011.