BOMARZO
Lá fora
ainda temos luz,
sem esquinas,
dessa que se deixa
às vezes ficar
como a cintura da jovem
junto ao braço do velho
no mesmo banco,
condoída da nossa prisão.
Mas deste lado de mim
está a cortina da noite,
atrás da noite
a escada que sempre subi
à tua frente,
dentro da escada
um rato
a escavar, a escavar
por entre os séculos.
E dentro do rato
um coração com urgência
de anjo exausto,
todo o sangue emparedado
da mais solitária personagem
neste nosso romance
com nome de jardim.
In situ, Língua Morta, Lisboa, 2012.
Há 2 horas