sábado, 23 de agosto de 2008

FÁTIMA MALDONADO

ENGENHOS DA NOITE


1

A noite reconstrói
a vida já segada
o cepo onde rompeu
a pele do pescoço
à infância transida
o surto mais febril
vai entoando loas
na esperança
d'açaimar
genéticos desgarros
percutem botões
na árvore da vida
as lobas nos fojos
mutilam nas presas
correntes do sonho
suportam muralhas
e a memória insiste
em devorar miúdos.


2

Sôfrega vindima
a crispação da mente
recolhe podres cachos
nos cestos enrijecem
soníferas gavinhas
o sono imperial
triunfa da vigília
ao descansar lembranças
a escama da sutura
expande pus
a inquinada linfa
onde a memória assusta.


Vida Extenuada, & etc, Lisboa, 2008.