CARTA DE EL PASO
Perdeste por pura estupidez
As palavras entravam-te na cabeça como nevoeiro
E por lá ficavam em nevoeiro
E também por falta de espinha
Pra não dizer outra coisa.
Gostas de vir com o Stonebreaker
Do miúdo absorto como um pesadelo
À luz do dia
Martelando pedra a pedra
Sem a possibilidade de fumar um cigarro na descida.
Devias estar mais atento ao louco
Que não vias atrás de ti
De navalha aberta. Agora não sei que te diga.
Respondes que estás bem embora tenhas dito a verdade
No que diz respeito à pornografia
Ou que a poesia já te deu melhores dias.
Ouve, esquece o puto a partir pedras
Ou então mete-te na droga.
Quanto à questão dos versos
Lembra-te da rapariga silvestre
E da outra que chupava kalipos inocente
Disposta a muito.
Digo isto porque estás a ficar muito pálido.
Em El Paso se quiseres
Podes abancar em minha casa, comes do que houver.
Fode-se e morre-se bastante por cá.
Telhados de Vidro, n.º 19, Averno, Lisboa, 2014.
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