sexta-feira, 31 de agosto de 2012

JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA

LEMA


Depois alguém morreu;
a estada tornou-se penosa,
o verão parecia não ter fim.
Era tempo de fazer malas
e projectos, de trocar
pautas por desacertos,
como, no último trimestre
do liceu, quem se apaixona
e arrepende da solidão que perdeu.
Assim chegou o outono
– depois alguém morreu.


Resumo: A poesia em 2011 [de Tentativa e erro], org. de Armando Silva Carvalho, José Alberto Oliveira, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas, Documenta/Fnac, Lisboa, 2012.

domingo, 26 de agosto de 2012

M. PARISSY

[CONTO AS TUAS FERIDAS]


conto as tuas feridas
às vezes nem sempre é fácil
ouvir o corpo em civil adolescência

em cada instante que passa
sinto que o amor viaja em comboios ultra rápidos

de que cor era aquela estação?


Morte com dedos em ferida, Edições Mortas, Porto, 2000.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

JOÃO PEDRO MÉSSEDER

FÔLEGO


Três sílabas
contra a morte


Ordem alfabética, Quasi, Vila Nova de Famalicão, 2000.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

HELDER MACEDO

[TIVE UMA AMIGA QUE AMBICIONAVA ESCREVER]


Tive uma amiga que ambicionava escrever
poemas de silêncio

trabalhou muito até que conseguiu
organizar numa mesa de vidro transparente
doze folhas brancas de papel em branco
com uma jóia em cima de cada uma
para cada amigo receber
o seu poema de silêncio
quando fosse encontrada no robe branco
da morte branca que nos oferecia

cheguei a tempo de salvá-la
fizeram-lhe a lavagem ao estômago
não me perdoou a alma mal lavada
nunca mais nos vimos
viaja agora de país em país
sem jóias sem poemas sem amigos
e telefona-me às vezes depois da meia-noite
quando o silêncio raspa o vidro da janela


Poemas novos e velhos, Editorial Presença, Lisboa, 2011.