terça-feira, 31 de março de 2015

MANUEL DE FREITAS

[EU PERCEBO, CLARO, QUE NÃO ME COMPREENDAS]


Eu percebo, claro, que não me compreendas. Há um momento em que ficamos completamente sós com os nossos fantasmas. E não há, disso, amor algum que nos salve. Constatamos, em silêncio, que tudo desabou. 

Mas o que eu não queria, de todo, era fazer literatura desta casa.Devo-lhe demasiadas memórias, pensei muitas vezes na sua provável ruína. Saber que é agora «minha» representa um acréscimo de dor e de responsabilidade.

Tem-me ajudado, reconheço, trazer aqui amigos, e partilhar com eles o impartilhável. Pois é-lhes difícil adivinhar quantas recordações estão associadas a uma fotografia aparentemente banal, a uma jarra coberta de pó ou ao velho gira-discos do meu pai.


Ah, vous dirai-je, Maman, edição do Autor (fora do mercado), Lisboa, 2015.

terça-feira, 24 de março de 2015

HERBERTO HELDER

1930-2015


domingo, 15 de março de 2015

RUI PIRES CABRAL

MEU AMIGO


Depois de tudo, no vazio
da manhã inabitável,

ajuda-me a negar
este remorso:

eu só queria uma canção
que não morresse

e a hipótese de um poema
que não fosse

o lugar onde me encontro
uma vez mais,

sem desculpa, sem remédio,
diante de mim mesmo.


Morada, Assírio & Alvim, Lisboa, 2015.