sexta-feira, 29 de setembro de 2017

EMANUEL JORGE BOTELHO

RUA DO SACO, N.º 15 (II)


o meu vizinho predilecto
morreu na guerra.

ele gostava de mim porque me acenava
quando dizia o meu nome.

no Verão, o meu vizinho passava, todas as manhãs,
perto da minha porta.
ia a caminho do mar.

quando me disseram que ele morrera na guerra
eu ainda não pensava que podia lá morrer.

eu não me recordo do nome do meu vizinho,
e queria tanto dá-lo
à saudade que dele tenho.


Os ossos dentro da cinza, Averno, Lisboa, 2017.