terça-feira, 22 de dezembro de 2015

JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA

CRÓNICA


Uma gripe que se arrasta,
um jantar que ficou azedo,
uma lembrança por enganosa,
um empenho que não vale o que custa.
Para outra altura fica o resumo
dos milagres, o relato dos prodígios,
a prova derradeira da falência dos humores.

Agora, mais do que antes, os artistas
têm pressa e o demiurgo acordou;
o espírito afundou-se nas águas.
Amanhã, quem acordar cedo terá
mais tempo para se arrepender.


Como se nada fosse, Assírio & Alvim, Lisboa, 2015.

domingo, 13 de dezembro de 2015

LUIS MANUEL GASPAR

[NADA PODERÁ TRAZER UM NAVIO DE VOLTA]

[...]

Nada poderá trazer um navio de volta
a este porto prometido às trevas
e ao visco.
No jardim que deixámos para trás
(e lembra hoje uma única teia de tamiça e estopa)
cresceram as luzes da visitação

Não seguimos o rio, não iremos juntos.
Só damos de nós o que jamais
poderão ver

[...]


Lvminaria, 2.ª edição, revista, Alambique, Lisboa, 2015.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PAULO DA COSTA DOMINGOS

[ERA UM PAÍS, UM CORPO]


Era um país, um corpo,
uma cidade de ossos
calcinados, onde nem cães
metiam o dente.

E o corpo é um cristal lívido
no centro d'uma praça, deportado,
límpido, onde nem os homens
se atrevem.

A cidade aposta-se toda
na espessura do sono, na
candura banal, vulgar,

do país em ruína:
impaciente.


Cal, Averno, Lisboa, 2015.

sábado, 28 de novembro de 2015

ISABEL NOGUEIRA

[TIROU DO BOLSO O CANIVETE]


Tirou do bolso o canivete que a mãe lhe oferecera aos seis anos.
Acto naturalmente impróprio, a respeito do qual seria desnecessário
ajuizar.
Abriu-o, passou ao de leve os dedos pela lâmina, e descascou a maçã.

Os olhos nunca saíam do barco. Nem do mar.
A prática fazia-o retirar a casca à fruta sem necessidade de olhar.
Era tudo uma questão de hábito e de motricidade fina.


Peso pluma, Paralelo W, Lisboa, 2015.

domingo, 8 de novembro de 2015

A. M. PIRES CABRAL

[VOCÊ ENTENDE, CASTEL?]


— Você entende, Castel? Isto significa que há de facto uma lei do mais forte que rege a vida em qualquer parte do planeta, seja numa aldeia ignorada da montanha ou no palácio presidencial. E que uma pessoa pode ser muito civilizada e urbana, mas, chegado o momento de lutar pela sua sobrevivência, se tiver necessidade de ser cruel, será cruel. Era só isto que eu queria dizer.


Sancirilo (3.ª edição), A Ronda da Noite, Vila Real 2015.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

ADÍLIA LOPES

[A LITERATURA]


A literatura começou para mim aos 10 anos ao ler um texto de Erico Veríssimo que vinha no livro da minha 4.ª classe: Clarissa a observar um carreiro de formigas. Devo a literatura a Erico Veríssimo a à Professora Maria Inácia e às formigas.


Comprimidos, parte integrante da Telhados de Vidro n.º 20, Averno, Lisboa, 2015.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

TIAGO ARAÚJO

LILAC WINE


neste clima de opinião, as tuas palavras deixaram de fazer sentido. existem vozes que reproduzem a voz humana a cantar o vinho de uma árvore persa, pesado como o nome que não chamo alto. a andar de costas contra o futuro, vejo apenas o que já passou: a música num quarto virado a norte, escolhido como espaço para avaliar a economia dos afectos. a teoria dos jogos exige um indivíduo racional e que queira vencer. talvez por isso todos os planos tenham falhado. ficarei mais um pouco à tua espera, até ser demasiado tarde para regressar ao território das pequenas recompensas. esta terra é um lugar povoado de mitos que vamos destruindo um a um. resta agora a ilusão de que, num tempo que nos chegou a ser contemporâneo, teríamos palavras para descrever esta perda de idades passadas. as opiniões dividem-se sobre a continuidade do ser ao longo de uma vida feita de lentas metamorfoses. a passagem dos anos, a construção do corpo e as circunstâncias criaram três ou quatro rapazes com o meu nome. não fui eu que, na adolescência, regressei a pé a casa, pela noite dos subúrbios, depois de ter perdido o último comboio e, sem o saber ainda, a tua atenção. sou hoje o duplo da memória de mim próprio e, em alguns minutos roubados às horas, escrevo a biografia de um desconhecido.


Telhados de Vidro, n.º 20, Averno, Lisboa, 2015.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

RUI PIRES CABRAL

IV. AVANT-DERNIÈRES PENSÉES 3


Basta de elegias às cidades brancas
do fim do Verão. As luzes secaram
dentro das palavras, já nada
as instiga – e que importa, afinal?

Seja como for, tive pouca fé
e más companhias do melhor que há:
amores viajantes, livros emprestados
(tudo é emprestado, se formos a ver),

amigos seguros e outros que o não
foram, nem tinham de ser. Uma coisa
é certa: a hora passou e os versos
murcharam. Deixai-os morrer.


Telhados de Vidro, n.º 20, Averno, Lisboa, 2015.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

MIGUEL MARTINS

[HÁ POETAS ASSIM]


Há poetas assim,
uns gramas de aletria, fina e doce,
traficados como se fossem cocaína pura.
Alimento energético, é certo,
adequado ao passo de galope
com que esperam chegar a algum lado
e, ao mesmo tempo, agradável ao olfacto
de quem nunca suou, nem sequer a foder.

Massa e açúcar, como disse, muito,
mas também o leitinho da infância,
um toque exótico a canela do Ceilão
e o ingrediente secreto,
que pode ser qualquer coisa
e dizem as más línguas que é apenas
uma irreprimível vontade de parecer interessante.

Sim, há poemas que só se assemelham
ao remate perfeito de uma consoada vulgar,
antes de cada um regressar a casa,
maldizer a família e dar início
à gestação de umas saudades nobres,
que aguardarão um ano pela matança.

Melhor dizendo, parecem-se com tudo
menos com poesia, essa grainha
de uva alojada na cárie de um molar,
que há que suportar só com morte interior,
porque essas coisas acontecem sempre
quando todos os dentistas se mascaram de renas
e vão passar uns dias à puta que os pariu.

Telhados de Vidro, n.º 20, Averno, Lisboa, 2015.

domingo, 27 de setembro de 2015

HELDER MOURA PEREIRA

[EU NÃO TINHA NADA DE FELINO, TU SABIAS]


Eu não tinha nada de felino, tu sabias
que eu não tinha nada de felino.
Nenhum de nós se admirou quando
medi mal a distância e falhei o salto.
Enquanto ia no ar parecia que era
um salto bom, porém houve qualquer
coisa que correu mal e caí com estrondo
no chão. Ninguém riu. Não era caso
para rir. Grande ilusão ir pelo ar a pensar
que o salto podia ser bom, sem eu ter
nada de felino, sem nunca ter treinado,
sem fazer sequer aquecimento, sem
olho para medir distâncias. Saber medir
distâncias é uma coisa muito importante,
pode falhar-se a vida por milímetros.


Telhados de Vidro, n.º 20, Averno, Lisboa, 2015.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

VITOR SILVA TAVARES

1937-2015


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A. M. PIRES CABRAL

EPÍGRAFE


Se algum dia alguém chegar a ler
este dizer agreste,
provavelmente pensará: que pálida lanterna;
não é deste metal que a luz é feita.

Calma. Pois não.

Mas quem assiduamente
visita os desvãos onde a noite se acoita
não precisa de mais que o clarão desta treva,
desta cegueira sem cão e sem bengala,
para no escuro rasgar o seu caminho
e nele ir progredindo às arrecuas.


A noite em que a noite ardeu, Cotovia, Lisboa, 2015.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

EMANUEL JORGE BOTELHO

ANOTAÇÃO, PREMONITÓRIA, PARA O POUCO ANTES


a última palavra que se diz
é a última vez que se entra em casa.


Fecho as cortinas e espero, Averno, Lisboa, 2014.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

ANA HATHERLY

(1929-2015)


quinta-feira, 25 de junho de 2015

MIGUEL CARDOSO

MUITO DEPOIS DOS DIAS E DAS ESTAÇÕES E DOS SERES E DOS PAÍZES


Há maneiras de usar isto em nosso proveito
e acordar
em tons de verde, rijos de ossos
mas nus
velhos e fulvos

e gastar metade do fôlego
a lavar os dentes,
voltando ao início

e pensar: isto

no tempo em que vai e vem
mais um destes outonos

isto vai

É certo que me sabia bem
um daqueles verdadeiros inícios

Mas chapinhar também é bom


[...]


À barbárie seguem-se os estendais, & etc, Lisboa, 2015.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

MANUEL DE FREITAS

O RAPAZ DA CAMISOLA

para o Manolo

O rapaz da camisola era espanhol e tinha
a minha idade (fumámos juntos
alguns charros, se é que isso vos interessa).
Estava lá, no dia em que finalmente
comprou a t-shirt do bar onde julgava
encontrar amigos, rebaixas de amor e música.
Deixou-me então uns discos, o sorriso
de sempre, truques de Pradera que incertamente
o reconduziam ao volante do pai e à
infância que passou, nos arredores de Cáceres.

Tinha vindo trabalhar, por poucos meses.
Não ganhava mal e eu, sem nunca
o dizer, talvez perdesse ainda melhor. Mas apaixonou-se
pela cidade (eu entendo). Morava na Graça,
sorria de facto muito, tornava mais próximos e comuns
os amigos que não tenho. A Ibéria, a desoras,
parecia subitamente possível – embora
a rapariga, loura, insistisse em dizer que não.

São tristes aqueles que partem e reduzem Lisboa
à vaga rotina dos escombros, ao despovoamento
dos afectos. Talvez um dia o rapaz da camisola
me telefone para que falemos de tudo
menos de poesia. Para já, gostava de lhe dedicar
um poema melhor, sem custos alfandegários, simples
como os copos que nos encostaram juntos ao balcão.


Sunny Bar, sel. de Rui Pires Cabral, Alambique, Lisboa, 2015.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

NUNO MOURA

[O MEU AMOR?]


O meu amor?
Nunca usei
tenho para lá
aquilo novo


Carimbos & Tatuagens, Lda., Debout Sur l'Oeuf, Coimbra, 2014.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

PAULO DA COSTA DOMINGOS

O VERÃO PARTIU...


O Verão partiu
E nunca devia ter vindo.
Quente foi o sol
Mas não pode ser só isto.

Tudo veio para partir,
Em minhas mãos tudo caiu,
Corola de cinco pétalas,
Mas não pode ser só isto.

Nenhum mal se perdeu,
Nenhum bem foi em vão,
À clara luz tudo arde
Mas não pode ser só isto.

A vida me prende
Sob a sua asa intacto,
Sempre a sorte do meu lado,
Mas não pode ser só isto.

Nem uma folha se consumiu
Nem uma vara quebrada...
Vidro límpido é o dia,
Mas não pode ser só isto.


A morte dos outros, Companhia das Ilhas, Lajes do Pico, 2014.

terça-feira, 26 de maio de 2015

ANTÓNIO BARAHONA

ERA UMA VEZ EU


Era uma vez
Eu nu e cintilante
prostrado ante a Magnífica
Mulher Mágica
Eu num submarino
a percorrer-me as veias
Eu a chicotear um cavalo sem pernas
Eu a partir ostras ao centro do pátio
Eu a separar a treva do vidro
Eu amestrando um exército de formigas brancas
Eu no fundo de uma cratera
a escrever o poema diligente do Sol


Pássaro-Lyra, Averno, Lisboa, 2015.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

JOSÉ MANUEL TEIXEIRA DA SILVA

ÀS ESCURAS


Seria a primitiva luz
das casas a mais antiga
Conhecíamos os caminhos
pelo baque da noite
um sopro tão retirado do mundo

O tempo demove as moradas do tempo
e no mais derradeiro olhar
já não saber como perder-te
essa súbita porta do dia
algo assim, às escuras

Música de anónimo, Companhia das Ilhas, Lajes do Pico, 2015.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

ALBERTO PIMENTA

A CADÊNCIA DOS BICHINHOS DE CONTA


os bichinhos do ouvido
fazem de conta que escutam
o que os bichinhos de conta
fazem de conta que contam

assim tudo corre bem
para uns e para outros
nem uns dizem que são mudos
nem os outros que são moucos


Bestiário lusitano, 2.ª edição, Momo, Lisboa, 2014.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

DO QUE ME LEMBRO


Lembro-me da música dos lugares a oeste
dos planos para esse reino amado
que pretendemos tanto tomar de assalto
antes dos brados do fogo

Mas as minhas mãos traziam já
uma sina mais escura, nem a noite

Qualquer penumbra serviu
ao meu coração oculto
a miséria do inverno
o treino dos falcões nas escarpas
a glória iludida
em que se consumiu o tempo


A noite abre meus olhos [poesia reunida], 3.ª edição, Assírio & Alvim, Lisboa, 2014.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

DAVID TELES PEREIRA

BOZE IGRZYSKO


Contam que é o reino mais frio da terra.
Biblioteca de pretéritos em vermelho-mudo
sob os longos olhares de uma sereia esquecida,
ferida no crepúsculo deste morder invernal.

Diz-se por aqui que a verdadeira igualdade
mora no cemitério e hoje o meu corpo dorme
por todas as pedras, com o círculo quebrado
da bem ordenada coroa. Que poder tão inútil,
cinco soberanos incapazes de falar a verdade:
nos dedos uma folhagem de astros, mas na boca
o sabor negro e persistente desta história inabitável.

Contam que é o reino mais frio da terra
e é bem possível que o seja.
Como aquela palavra, a mais perfeita,
uma sílaba de lábios abertos para a névoa
e um toque de língua no tecto da voz.
Daqui nunca ninguém saiu vivo a não ser em sonhos
e, claro, como sempre se ouviu,
não é saudável engolir mortos sem os mastigar primeiro.


AA. VV., Quarto de hóspedes, Língua Morta, Lisboa, 2013.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

RUI CAEIRO

TUBARÕES


Há nos mares cerca de trezentas espécies diferentes
todas devidamente armadas com os mesmos dentes
(sobre o que se passa em terra não há estatísticas)


Deus e outros animais, Averno, Lisboa, 2015.

domingo, 12 de abril de 2015

A. M. PIRES CABRAL

O POETA


[...]

O Poeta parecia finalmente mergulhado em paz interior, arduamente conquistada. Os seus lábios, ainda enamorados do verbo, não cessavam de mover-se: saboreava desse modo, imaginei eu, a doce acalmia que sobrevém a um parto bem-sucedido. Eu olhava embevecido e via naquele mover de lábios o sorriso cansado de uma puérpera que repousa no leito já com o recém-nascido nos braços. Coisa bonita de ver.

De súbito, os seus lábios começaram a mover-se mais depressa, com maior amplitude. "Vem aí outro poema!", pensei, excitado. "Eis que a força criadora se apossa de novo daquele espírito atormentado na perseguição do Belo." Temendo que se pusesse a levitar, senti-me tentado a segurá-lo por um braço, recomendar-lhe contenção, que estava num lugar público. Só não o fiz porque num sum dignus.

[...]

A navalha de Palaçoulo, Cotovia, Lisboa, 2015.

terça-feira, 31 de março de 2015

MANUEL DE FREITAS

[EU PERCEBO, CLARO, QUE NÃO ME COMPREENDAS]


Eu percebo, claro, que não me compreendas. Há um momento em que ficamos completamente sós com os nossos fantasmas. E não há, disso, amor algum que nos salve. Constatamos, em silêncio, que tudo desabou. 

Mas o que eu não queria, de todo, era fazer literatura desta casa.Devo-lhe demasiadas memórias, pensei muitas vezes na sua provável ruína. Saber que é agora «minha» representa um acréscimo de dor e de responsabilidade.

Tem-me ajudado, reconheço, trazer aqui amigos, e partilhar com eles o impartilhável. Pois é-lhes difícil adivinhar quantas recordações estão associadas a uma fotografia aparentemente banal, a uma jarra coberta de pó ou ao velho gira-discos do meu pai.


Ah, vous dirai-je, Maman, edição do Autor (fora do mercado), Lisboa, 2015.

terça-feira, 24 de março de 2015

HERBERTO HELDER

1930-2015


domingo, 15 de março de 2015

RUI PIRES CABRAL

MEU AMIGO


Depois de tudo, no vazio
da manhã inabitável,

ajuda-me a negar
este remorso:

eu só queria uma canção
que não morresse

e a hipótese de um poema
que não fosse

o lugar onde me encontro
uma vez mais,

sem desculpa, sem remédio,
diante de mim mesmo.


Morada, Assírio & Alvim, Lisboa, 2015.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

RUI BAIÃO

[JUNTO AO PARQUE, ENTRE SEBES]


Junto ao parque, entre sebes –
o túmulo do tumulto. Baga prenhe
entre maciços e culpas. Como se pinta
a Pintura? – a crude enraivecido e esmeril
de noivado, onde a falsa moral fosse
o repouso no ninho, a não exclusão. Como se escreve
a Escrita? – de mãos atadas, sem olhos que
a vissem morrer, aí à furna. De morte
em morte, como um relâmpago de pressa
diz ao uivo. Como se vive desta Morte?
– de precária coincidência, como prova
de silêncio ao fruir, ou o que atordoa o mundo
quando os dardos. Muitos dardos, dirigidos
fossem a esse favo, pior que a noite.


Insane, Averno, Lisboa, 2014.

sábado, 31 de janeiro de 2015

ANTÓNIO GREGÓRIO

[A BEATRIZ]


A Beatriz não mais deixou de vir, inicialmente experimentadora de frequências, uma vinda por semana, duas vindas por semana, até à média do dia sim dia não e de costume pós-prandial, uns dias airosa e gaiteira e outros sombria porque nem sempre acordamos para o mesmo lado, não é?

[...]


O condómino, Língua Morta, Lisboa, 2014.