domingo, 27 de setembro de 2015

HELDER MOURA PEREIRA

[EU NÃO TINHA NADA DE FELINO, TU SABIAS]


Eu não tinha nada de felino, tu sabias
que eu não tinha nada de felino.
Nenhum de nós se admirou quando
medi mal a distância e falhei o salto.
Enquanto ia no ar parecia que era
um salto bom, porém houve qualquer
coisa que correu mal e caí com estrondo
no chão. Ninguém riu. Não era caso
para rir. Grande ilusão ir pelo ar a pensar
que o salto podia ser bom, sem eu ter
nada de felino, sem nunca ter treinado,
sem fazer sequer aquecimento, sem
olho para medir distâncias. Saber medir
distâncias é uma coisa muito importante,
pode falhar-se a vida por milímetros.


Telhados de Vidro, n.º 20, Averno, Lisboa, 2015.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

VITOR SILVA TAVARES

1937-2015


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A. M. PIRES CABRAL

EPÍGRAFE


Se algum dia alguém chegar a ler
este dizer agreste,
provavelmente pensará: que pálida lanterna;
não é deste metal que a luz é feita.

Calma. Pois não.

Mas quem assiduamente
visita os desvãos onde a noite se acoita
não precisa de mais que o clarão desta treva,
desta cegueira sem cão e sem bengala,
para no escuro rasgar o seu caminho
e nele ir progredindo às arrecuas.


A noite em que a noite ardeu, Cotovia, Lisboa, 2015.