quinta-feira, 18 de março de 2021

A. M. PIRES CABRAL

 A UMAS FLORES AMARELAS


Encontro-as por acaso numa ilharga
sombria do caminho. São amarelas.
Reluzem como um sol que arda na noite.

Estas flores tão densamente de ouro,
eriçadas de estames que parecem
a pelagem dum gato posto à prova,

a mim, que me comovo com igrejas singelas
de preferência a grandes catedrais,

mostram um esplendor totalmente inesperado
neste chão de pedra que ninguém diria
poder florir assim.

Ó flores cujo nome desconheço,
prolongai esse fulgor humilde em cada dia
de que ainda disponho para ver as flores,

antes de as flores virem ter comigo.


Simbioses [de Gaveta do fundo], Lema d'Origem, Carviçais, 2020.