terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

FÁTIMA MALDONADO

SOBRE UM DUELO


Incúrias cravam ferros
no pálio da velhice.
O novilho da morte
tenta escapar ao laço
deambula na sala
à esquiva do amor
furta-se à ferra do desejo
torsos reflectem
a luz das velas
esverdinha a pele
água salobra
marcham camelos
na espinha bífida.
O ventre flecte
enquanto a lua assiste.


Às escuras (com José Amaro Dionísio, Helder Moura Pereira e Fernando Cabral Martins), 100 Cabeças, Lisboa, 2016.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

FÁBIO NEVES MARCELINO

[NUNCA FUI SENÃO UMA PONTE QUEBRADA]


Nunca fui senão uma ponte quebrada
à espera de um dia inteiro

Uma infância presa
entre muralhas
à espera de um dia novo


Canto irregular, Averno, Lisboa, 2018.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

HELDER MOURA PEREIRA

[FUI A UM BAR BEBER UM COPO]


Fui a um bar beber um copo,
por acaso era irlandês, ali ao cais
do sodré. Toda a gente cantava
de cerveja na mão, mas quando
chegou àquela parte and I found
a wife in the town I loved so well
comovi-me, engasguei-me, a caneca
escorregou-me das mãos e partiu-se
no chão. Alguém se aproximou
para me dar palmadinhas nas costas
e ainda hoje a coisa que melhor
sabe fazer, de longe, a coisa
em que é mesmo especialista,
é dar-me palmadinhas nas costas.


Às escuras (com José Amaro Dionísio, Fátima Maldonado e Fernando Cabral Martins), 100 Cabeças, Lisboa, 2016.