domingo, 28 de maio de 2017

ROSA MARIA MARTELO

[VER PASSAR NAS FOLHAS DAS ÁRVORES]

Ver passar nas folhas das árvores
a cauda aberta dos peixes

no brilho de mica do granito,
a cintilação nocturna das estrelas

nas veias da mão, a ramificação
das pétalas

de rosa
(por exemplo). Porque o mundo copia

desvairadamente as suas cópias de cópias
enquanto inventa as diferenças:

insano mestre de loucos, artesãos,
da sombra esguia do fim da tarde,

multiplicador de inexistências,
mãos zootécnicas refeitas na parede

onde uma asa, uma ave, é (e não é)
a sombra de uma ideia projectada.


Siringe, Averno, Lisboa, 2017.

terça-feira, 23 de maio de 2017

ADÍLIA LOPES

[AS ARANHAS]


As aranhas
que vejo cá em casa
têm 8 patas

A algumas
falta uma pata
devem ter sofrido
um desastre


Bandolim, Assírio & Alvim, Lisboa, 2016.

domingo, 21 de maio de 2017

JOÃO ALMEIDA

NÃO HÁ RAZÕES


Casal um à mesa não importa o dia
Não importa a hora

Falam uma língua muda
Que sai das coisas
E as leva sem vestígio

Ela faz pequenos barcos
Com o papel da conta do jantar
Ele queria ir ao fundo do céu
Da boca se pudesse

E eu que como de tudo
Não entendo tal noite.


Hotel Zurique, Averno, Lisboa, 2017.