I – Diário de navegação
Movo-me cintilante com bandarilhas solares entre arenas de pétalas mortas. Pressinto as canetas cravadas e adormecidas.
Arrasto o segredo mineral dos ventos e contemplo o verbo derramado pela raiz. Grito nas veias atrás do sangue para esculpir a cor.
Vou comigo, escapando à loucura, carregado de pólen no papel à sombra do gesto. Aprisiono os sentidos e as vigílias de quem espera a palavra surda.
Apaziguo o corpo numa ruína sedutora onde bebo a areia insone. Fecho as janelas atrás da espuma marítima.
Recordo-me sem saída.
Neste estabelecimento não há lugares sentados, Alambique, Lisboa, 2016.