UM POEMA ERÓTICO
Alguém me mandou escrever
um poema erótico. Alguém disse:
o sal da vida! A labareda! Escreve.
Fala-me do sexo a contra-luz, ou, se quiseres,
da macieza da boca. Da adivinha
de um dedo, das perguntas
respiradas que depois caem na pele.
Faz com que dois corpos colidam,
que os seios baloicem, que bravos
gemidos sejam o berço de outros
uivos, tudo isto para que a alma
saiba o que lá vem e consinta no ocaso.
Não fales do muco que brota cegamente,
de músculos vulcânicos, da velha cavalgada;
entrámos num rasgão do universo!
O erotismo é isso, disse o mandante do poema:
uns olhos dilatados de gato à procura da luz.
Eufeme, n.º 1, edição de Sérgio Ninguém, s. l., 2016.
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