domingo, 28 de maio de 2017

ROSA MARIA MARTELO

[VER PASSAR NAS FOLHAS DAS ÁRVORES]

Ver passar nas folhas das árvores
a cauda aberta dos peixes

no brilho de mica do granito,
a cintilação nocturna das estrelas

nas veias da mão, a ramificação
das pétalas

de rosa
(por exemplo). Porque o mundo copia

desvairadamente as suas cópias de cópias
enquanto inventa as diferenças:

insano mestre de loucos, artesãos,
da sombra esguia do fim da tarde,

multiplicador de inexistências,
mãos zootécnicas refeitas na parede

onde uma asa, uma ave, é (e não é)
a sombra de uma ideia projectada.


Siringe, Averno, Lisboa, 2017.