sábado, 15 de julho de 2017

NUNES DA ROCHA

[HÁ MUITO TEMPO DA JANELA]


Há muito tempo da janela
A olhar o zodíaco
E o chuvisco sobre barco em doca seca.
Ofereço a Júpiter álcool sem retorno,
A Vénus rugas recém-chegadas
E a Marte tudo o que nunca fiz,
Por preguiça
Ou revolução inacabada.

Com língua balaustrada
Talvez o céu fosse estrada
Ou verso a verso no caminho
Para ti.
Mas queimei todos os livros,
Cobri os cabelos com a cinza
E nunca mais, lepra inútil,
Ceguei pelo feitiço da sibila.


Poemas obsoletos de um bicho imóvel, Averno, Lisboa, 2017.