E, a propósito de viagens, recordo um serão em Sawa-Sawa (Moçambique): depois de longa caminhada pelo mato, eu deitara-me na esteira, exausto, ao lado do meu Shaykh que, à luz duma lamparina fumegante, derretia rapé sob a língua e murmurava uma oração.
Emudeceu, de súbito, satisfeito com o som do que dissera. E eu adormeci.
Acordei passados poucos minutos, com a sua voz a asseverar-me num tom deveras afirmativo:
— Só os homens que viajaram muito e correram mundo podem ser assim tão amigos e íntimos, como nós somos!
Eu nem sequer achava que tivesse viajado muito e comecei a imaginar que, com certeza, ele teria viajado muito mais.
E perguntei-lhe, curioso, após narrar-lhe as minhas vagamundagens:
— E o meu Pai, até onde foi?
— Quem? Eu? — retorquiu o meu Shaykh, surpreso. — Eu nunca saí desta aldeia!
Aos pés do Mestre, Averno, Lisboa, 2018.