AS LEIS DO POVOAMENTO
À casa regressam agora as perdidas
sombras da infância. Os exercícios de
caligrafia escondidos na cómoda,
os paus do inverno no piso
térreo, o rumor do ouro poisado por
entre um postal e um vidro
de perfume, as raparigas que
paravam na escaleira erguendo a cabeça
na direcção do vento, o sinal
obscuro das mãos erguidas
em prece. E é como se as leis do
povoamento determinassem um lugar
central a tudo o que ao longo
dos anos irremediavelmente se perde.
O uso dos venenos (segunda edição), Língua Morta, Lisboa, 2018.
Há 2 horas