sexta-feira, 21 de maio de 2021

MIGUEL-MANSO

ATRÁS DA VELHA SÉ


(não trazer os limoeiros do jardim
de novo para o poema)

Lisboa já não é suficiente
faz-me falta um povoado sub-regional onde exista
precisamente este quarto musicado, sumido
entre a cal sobreposta dos séculos

lugar despojado, despido, eu tenho
fome de não comer, abater o que em mim arvora
permanecer sentado no sangue que cursa
a ribeira deste corpo e um dia secará

para que o gato sujo se aborreça
outra e outra vez sobre o muro, à sombra
dos limoeiros


Estojo, Relógio d'Água, Lisboa, 2020.