VIA DI CITTÁ
Nas cidades educadas, como Siena,
as casas fazem os homens e não
os homens as casas; as ruas param
para os deixar passar e eles passam,
como lhes cumpre, sem protestos
de pilão e camartelo, agradecidos,
deixando atrás de si o palco limpo
para a gala dos vindouros e seus actos.
Suas sombras acomodam-se à virtude
de passar sem aparato. Não se toldam
com licores de petulante afirmação,
não arruínam, por despeito, a perfeição.
Limitam-se a passar, a transferir
duma gaveta para outra as escrituras,
o afecto dos contratos. E nisso mostram
tudo o que, na vida, é possível aprender.
Telhados de Vidro, n.º 11, Averno, Lisboa, 2008.
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