CONVERSA ENTRE CONTEMPORÂNEOS / 9
As conversas entre contemporâneos assemelham-se
a encontros de náufragos: passam-se sempre debaixo
de água à espera da dor que permita que as palavras
ascendam à superfície. E no entanto mesmo os distraídos
reparam que uma feroz natureza cresce das bordas
da linguagem, exalando aromas que cada vez é
mais difícil interpretar à luz da literatura.
Haverá ainda alguém interessado em os respirar?
Também nós, relutantes jardineiros,
não nos aproximamos dos canteiros
e as flores que cultivamos,
colhemo-las antes de tempo,
só para, com o perfume,
não ter de aspirar a loucura.
El Arte de la Pobreza: Diez Poetas Portugueses Contemporáneos (de Grotesco), org. José Ángel Cilleruelo, CEDMA, Málaga, 2007.
As conversas entre contemporâneos assemelham-se
a encontros de náufragos: passam-se sempre debaixo
de água à espera da dor que permita que as palavras
ascendam à superfície. E no entanto mesmo os distraídos
reparam que uma feroz natureza cresce das bordas
da linguagem, exalando aromas que cada vez é
mais difícil interpretar à luz da literatura.
Haverá ainda alguém interessado em os respirar?
Também nós, relutantes jardineiros,
não nos aproximamos dos canteiros
e as flores que cultivamos,
colhemo-las antes de tempo,
só para, com o perfume,
não ter de aspirar a loucura.
El Arte de la Pobreza: Diez Poetas Portugueses Contemporáneos (de Grotesco), org. José Ángel Cilleruelo, CEDMA, Málaga, 2007.