CORAÇÃO DE VIDRO
Faço o meu trabalho de desocupação.
De vazios que não me exigem manhãs,
nem horários, para ficarem marcados
em calendários prescritos: valetas
de dias sobre datas passadas.
A minha tristeza não tem trocos
nem desenganos. Nem com eles
o direito de encontrar, ao tacto
da superfície de alcatrão, aquilo
com que os meus membros silenciosos
respondem – a chamada aos bolsos
de pedras partidas, que lanço
contra um coração de vidro.
Criatura, n.º 4, Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa, 2009.
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