quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

RUI MIGUEL RIBEIRO

CORAÇÃO DE VIDRO


Faço o meu trabalho de desocupação.
De vazios que não me exigem manhãs,
nem horários, para ficarem marcados
em calendários prescritos: valetas
de dias sobre datas passadas.

A minha tristeza não tem trocos
nem desenganos. Nem com eles
o direito de encontrar, ao tacto
da superfície de alcatrão, aquilo
com que os meus membros silenciosos

respondem – a chamada aos bolsos
de pedras partidas, que lanço
contra um coração de vidro.


Criatura, n.º 4, Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa, 2009.