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Às vezes, acho-me quase tranquilo. Imerso numa esperança sem fé. Parece-me que me escutais na distância, quando, em silêncio, vos peço perdão. Mas sei que isso não é possível (quando muito – e é altamente improvável – poderíeis, se fosseis todos vivos, estar adivinhando esta minha disposição). Mas basta-me que vos peça perdão. Um pedido que não carece de culpa nem de aquiescência. Uma reconciliação imaginada. Como tudo em mim. Um reencontro que, por agora, não fica adiado. Depois, penso: é como o sono – sem ele, a vida seria insustentável. E vejo-me, uma vez mais, compelido à vida. Se a minha velha mãe assim o desejar, acompanhá-la-ei às compras. Pergunto-me se, nesta altura do ano, já haverá melancias...
O taberneiro, Poesia Incompleta, Lisboa, 2010.
Às vezes, acho-me quase tranquilo. Imerso numa esperança sem fé. Parece-me que me escutais na distância, quando, em silêncio, vos peço perdão. Mas sei que isso não é possível (quando muito – e é altamente improvável – poderíeis, se fosseis todos vivos, estar adivinhando esta minha disposição). Mas basta-me que vos peça perdão. Um pedido que não carece de culpa nem de aquiescência. Uma reconciliação imaginada. Como tudo em mim. Um reencontro que, por agora, não fica adiado. Depois, penso: é como o sono – sem ele, a vida seria insustentável. E vejo-me, uma vez mais, compelido à vida. Se a minha velha mãe assim o desejar, acompanhá-la-ei às compras. Pergunto-me se, nesta altura do ano, já haverá melancias...
O taberneiro, Poesia Incompleta, Lisboa, 2010.