quinta-feira, 15 de julho de 2010

RUI MIGUEL RIBEIRO

A TARDE


Nesta desaceleração
espero que os dias corram iguais,
uniformes e sem resistência.
Procuro de cada mistério
entender o mais simples.
Fico pelo que é mais rente,
mais sólido, com menos construção.

Já não chega ter os horários,
as entregas e as rotinas,
para aceitar o ritmo de furo lento
da vida. Mais próximo cresce o detalhe.
É mais precisa a dúvida.

Cai a tarde e a pausa continua
e com ela expira o natural desejo
de um prazer, um apetite pela
diagonal de luz que vai dividindo
o espaço, a marca invisível
que fica de mais um dia.


Resumo: A Poesia em 2009 [de XX Dias], Assírio & Alvim, Lisboa, 2010.