Não sei se a tua voz, ou se o murmúrio
do fim da tarde que se ouvia quase
como uma gota d'água que tombasse
em calmo lago ali alheio e mudo.
Nossos olhos retinham o crepúsculo
que lentamente audaz se aproximava
e pelo céu ainda alavam pássaros
que sulcavam as nesgas do azul.
Foi um momento singular aquele
em que os sentidos todos reunidos
apelavam ao gozo do silêncio:
um instante perene de certeza
de que era fogo aquilo que vivíamos,
que não se via: bramidor ardendo.
Saudade: Revista de poesia, n.º 11, Associação Amarante Cultural, Amarante, 2009.