para Samuel Beckett
ando à espera que me digam de que lado
virá o último pássaro a que darei sustento.
a minha borboleta já cá está há muito tempo.
chegou com o vento da noite
e trouxe-me um nome de árvore.
esperar não é pedir muito ,
nem obriga mão alguma
a dar lisura de afago
ao frio que rasga a face.
se alguém souber cantar, que não se acanhe.
eu gostava de ouvir, em voz, o que só o silêncio conhece.
esperar não é pedir muito, eu já o disse:
a solidão contenta-se com pão e água.
Cão Celeste, n.º 10, Lisboa, 2016.