ANTÓNIO
Sob a ponte da auto-estrada
no fundo de um carreiro de formigas
três casas de madeira rápida
é um sítio lento e impuro onde peixes amarelos
cintilam. Crescem fetos na barriga das mulheres
um violador tímido
vinho
um doido arreganhado com olhos parados lá dentro
o António não está e olha para o chão
tem 17 anos e nunca lavou os dentes.
A assistente social pergunta ao guardador de peixes
por que é que o António tem faltado à escola. O barulho
dos carros é faz de conta uma cascata. Que não
sabe, está mal da barriga diz o doido sem sabedoria.
Lesmas pretas com os olhos pequenos pontos brancos
escondidos
brilham como brilha a alegria.
O Mal dos Postes de Alta Tensão, Black Sun Editores, Lisboa, 2000.
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