segunda-feira, 3 de novembro de 2008

JOÃO ALMEIDA

ANTÓNIO


Sob a ponte da auto-estrada
no fundo de um carreiro de formigas
três casas de madeira rápida

é um sítio lento e impuro onde peixes amarelos
cintilam. Crescem fetos na barriga das mulheres
um violador tímido
vinho
um doido arreganhado com olhos parados lá dentro

o António não está e olha para o chão
tem 17 anos e nunca lavou os dentes.
A assistente social pergunta ao guardador de peixes
por que é que o António tem faltado à escola. O barulho
dos carros é faz de conta uma cascata. Que não
sabe, está mal da barriga diz o doido sem sabedoria.

Lesmas pretas com os olhos pequenos pontos brancos
escondidos
brilham como brilha a alegria.


O Mal dos Postes de Alta Tensão, Black Sun Editores, Lisboa, 2000.