TEMPO GIUSTO
Abriu o armário da loiça. Porta de pinho presa de
humidade. As suas mãos
trouxeram, uma a uma, as várias peças de
um fabulário de faiança, azul sobre puríssimo branco.
Serviu-me nessa tarde o último chá,
caiu de um rude bule
vidrado
para a chávena que trazia as armas de um dos avós;
um dos seus dedos acariciava, sentia a temperatura do
chá, enquanto passava, ao de leve, sobre a ferida
heráldica carregada de um S maiúsculo, honorada com
o arminho de um fugaz pariato.
«Coisas da pequena pátria.» E sorria de um modo
sonhador; «por cinquenta cêntimos o centro do homem funciona».
Invisíveis correntes, Relógio d'Água, Lisboa, 2004.
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