LUCIDEZ
Em cada instante, a poesia
Morre em mim.
E a mão certeira que a escrevia
Escreve assim:
Qualquer poesia alheia
Não pode ser comparada
Com esta minha, tão cheia
De nada.
Quem a lê logo conhece
Que é
Aquela que não merece
Nem nota de rodapé.
E, se a estudou, sabe agora
Que perdeu a inspiração.
E cora
De lhe haver dado atenção.
Quem sou de mim foi-se embora:
Pára, de vez, coração!
(Mas dilacera-me a espora:
– Ainda não!)
Ainda Não, Averno, Lisboa, 2010.
Há 12 horas