domingo, 17 de janeiro de 2010

RUI PEDRO GONÇALVES

[O QUE DIZEM OS ESPELHOS, IMPERADOR?]

para a Inês Dias

O que dizem os espelhos, Imperador?
Será o vazio quem procura as imagens
Ou são as águas que esperam rostos mergulhados – carruagens
cheias de transeuntes
Que passeiam nesta margem, junto ao rio?

Não dizes.

Acabas sempre por guardar segredo.
Fazes o teu jogo.
Começas, acabas, mas permaneces imóvel como o espelho que,
um dia,
Hei-de partir.
Partirei, sim. O teu reino não dura sempre. Nem o meu.
E as imagens quebram-se contra o mundo novo. São coisas
recentes
Novas danças
Que fazem com que as coisas sejam, nem sei como dizer, talvez
Como um pêndulo de relógio.

Mas um dia, se quiseres
Diz-me se o vazio é actor principal.
E quanto tempo está em cena. Se alguém o aguarda
Mesmo depois de actuar
Ou se vai mesmo em digressão.

Existe um espelho que me espera.

Não me quero reconhecer.


Telhados de Vidro, n.º 13, Averno, Lisboa, 2009.