quarta-feira, 7 de abril de 2010

JAIME ROCHA

[HÁ NO CÉU UM CHORO QUE SOBE COM AS PLANTAÇÕES]


Há no céu um choro que sobe com as plantações.
E um odor vazio parecido com o barro.
O homem queima o peito quando atravessa
uma placa de zinco. A sua sombra aparece
depois no meio de um olival. Os dias são como
os abutres, calados, virados para sul. Tudo fica
envolto numa crença assim que o pássaro consegue
saltar pelo espelho sem que as suas vísceras se
esmaguem. Só o silêncio acorda o homem
e o desperta para o mal.


Do Extermínio, Relógio d'Água, Lisboa, 2003.