domingo, 27 de junho de 2010

RUI PIRES CABRAL

RESTAURANTE POLACO


A noite é sustentada pelos seus enfeites
como um homem morto ligado às máquinas.
Os clientes folheiam livros, tudo polacos
do mesmo quarteirão. Percebemos
de repente: há qualquer coisa acima das palavras
que não se deixa decifrar. Em cidades estranhas
dispomos melhor dos sentidos, somos arriscados
nas nossas intuições. E depois da sopa, do chá
morno, ao sair para a rua, podemos descobrir
que ainda estamos vivos e que no fim de contas
nunca conhecemos outra condição. Esta é a hora
que nos representa. E aquilo a que chamamos realidade
segue connosco na mesma direcção.


Periférica, n.º 3, Vila Pouca de Aguiar, 2002.