terça-feira, 23 de novembro de 2010

ARTUR DO CRUZEIRO SEIXAS

[O PARTO DE UMA PEDRA]


O parto de uma pedra
é realmente um espectáculo
para uma vida inteira.

E há ainda o sol
e a sua vergonhosa incompatibilidade
com a lua.

Mas hoje estou triste como se fosse poeta
e é à sombra do vento que me acolho
puxando para os ombros
a nudez da paisagem.

Vêm os violinos
de muito longe
ouvir a neve.


Poemas portugueses [de Eu falo em chamas], org. Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora, Porto, 2009.