sábado, 29 de janeiro de 2011

INÊS LOURENÇO

VELHO CELULÓIDE


Caixeirinhos de Grandela,
costureirinhas da Sé, futuras
mães de família obesas, trinados
de meninas da rádio, saloias
românticas, lavradores de
cena, pais tiranos, casas
apalaçadas, serviçais complacentes,
negreiros de boa alma, algumas
tabernas e algumas guitarras.

Pontos culminantes:
o triunfo internacional do
artista ignoto à frente de um
postal do Arco de Triunfo, da Torre
de Londres ou de alguns
arranha-céus. Os beijos
à cinema, seguidos de grandes
planos da paisagem no Fim
que acaba bem o ecrã a preto
e branco em enorme letra gótica,
eles casam.


Poemas com cinema [de Logros consentidos], org. Joana Matos Frias, Luís Miguel Queirós e Rosa Maria Martelo, Assírio & Alvim, Lisboa, 2010.