quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

FERNANDO DE CASTRO BRANCO

NÁUFRAGO


"Esperas que te digam que ainda não morreste".
Este verso naufragou faz tempo no meio de um poema
mau e vejo agora que mereceria melhor sorte.
Retiro-o cuidadosamente das ruínas
como quem retira do meio dos destroços
um corpo dado à costa numa praia deserta.

Deixo-o ao relento o tempo necessário
para que o sol lhe entre nos pulmões
e lhe beba a água em excesso. Se respirar
uma vez mais, quiçá para seu mal,
ensaiará o passo seguinte, integrando
ossadas de um novo cemitério


A caminho de Avoriaz, Cosmorama, Maia, 2011.