Ainda estou vivo, apesar de enterrado
numa província do antigo império.
Estou nos Urais, na cidade de Oziórssk –
...cidade dos lagos –
trabalho muito e ganho pouco. Tenho o
meu apartamento de duas assoalhadas onde
faço obras há três meses sem parar. Temos
aqui muita neve e muito frio e os ursos
não lêem a poesia portuguesa, nem a russa.
Estou no lado oposto da Europa, a 40
kms da Ásia... mas na Europa. (Somos um
bocado europeus.) Não vejo hipótese de
ir para Portugal até um milagre qualquer
acontecer, mas não vale a pena ter pena de
mim, eu tinha muitas saudades da neve.
Digo-te, por isso, um bom natal.
Oziórssk, dezembro de 1995.
Versos e prosas em forma de Natal [de Não é certo este dizer], Relógio d'Água, Lisboa, 2010.